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Margarida Cantarelli reafirma compromisso da APL com a população

A presidente da APL, Margarida Cantarelli, tem buscado fazer uma gestão voltada para a relação com a população - Foto: Arthur de Souza
A presidente da academia comemora o status de museu que a instituição ganha a partir desta segunda-feira (12)

No ano em que comemora os seus 117 anos, a Academia Pernambucana de Letras dá um grande passo na história e ganha o status de museu, a partir desta segunda-feira (12). Sob a batuta da presidente, Margarida Cantarelli, o belo casarão da avenida Rui Barbosa, que a APL ocupa desde 1973, estará de portas abertas para estudantes, turistas, pesquisadores e mais. A doação do BNDES, angariada ainda durante a gestão de Fátima Quintas, foi decisiva para esta mudança da instituição. O banco, aliás, fez a exigência de que, se fosse para dar suporte a uma reforma, que o equipamento fosse aberto de vez à Cidade.

Ano a ano, Margarida reafirma o compromisso da entidade com a população. Ainda distante da realidade de muitos do Estado, da capital ao interior, a APL começa a ganhar a simpatia de mais gente com atividades que aproximam o público e fomentam o interesse pela leitura e cultura locais. Rodas de literatura, programação musical e exibição de filmes têm mudado o modo como a academia é vista. “Temos o cuidado de cada grupo que nos visita ser acompanhado por um acadêmico ou outra pessoa da casa que possa explicar o diferencial deste prédio”, comenta Margarida.

O casarão da Rui Barbosa funcionará também como museu e passa a receber visitantes este mês – Foto: Arthur de Souza

Brilho delas

Ser mulher no cargo de comando de uma academia de letras é, essencialmente, vanguardista. O histórico e o presente deste tipo de instituição apontam uma maioria masculina tanto nas presidências quanto nas composições, o que, obviamente, não dialoga com o século 21. Na APL, dos 40 imortais, apenas 10 são mulheres.

Margarida dá continuidade e aprimora o legado da sua antecessora, Fátima Quintas, primeira mulher a presidir a instituição. “As mulheres têm uma forma de administrar mais leve no trato, mas também mais eficiente na execução. Os cuidados, a dedicação. Não que os homens não tenham. Mas as mulheres têm uma preocupação com os detalhes, sem deixar de atender a parte cultural “, explica.

Cantarelli afirma que a administração feminina foca nos detalhes sem esquecer o macro – Foto: Arthur de Souza

Sopro do novo tempo

Margarida chama o que a Academia Brasileira de Letras viveu recentemente de “Sopro do novo tempo”. É que, em junho, pela primeira vez, uma mulher negra e reconhecida academicamente colocou-se na disputa por uma cadeira na ABL. Conceição Evaristo, que perdeu a vaga para o cineasta Cacá Diegues, causou a maior mobilização da história em relação à academia. Nas redes sociais, milhares de pessoas assinavam petição online pedindo que a entidade voltasse o seu olhar e reconhecesse a qualidade de Evaristo. Não ocorreu.

Conceição Evaristo disputou vaga na Academia Brasileira de Letras e causou a maior mobilização em relação à ABL dos últimos tempos – Foto: Reprodução Internet

Ao comentar o caso, Margarida ressalta que “As pessoas querem que a academia espelhe a sociedade […] Isto está no caminho da evolução”. E continuou dizendo acreditar que “em todas as academias o caminho seja este, de identificação com o que nasce e com o que a sociedade aponta como algo ou alguém que deva ser valorizado”.

Voltar o olhar

Apesar de reforçar os laços com a Academia Brasileira, Margarida acredita que o trabalho é ainda mais rico quando as academias do interior do Estado e do resto do Nordeste dialogam entre si. “Eu acho que as manifestações locais precisam ter espaço. Precisam chegar ao Recife”, comenta. A presidente já tem, inclusive, um esboço de evento para reunir as academias de Pernambuco. Também roda a região com visitas à Paraíba, ao Rio Grande do Norte e outros.

Todo o acervo da APL estará disponível ao público – Foto: Arthur de Souza

Mesa de cabeceira

Por causa da sua relação próxima com Portugal, através do vínculo com professores de direito das universidades de Coimbra e Lisboa, Margarida não dispensa um bom livro português, de Camões, passando por Eça de Queiroz, Florbela Espanca, Sophia de Mello Breyner e, lógico, Fernando Pessoa. “O quem tem me deixado fascinada é a nova geração de escritores de língua portuguesa, principalmente os da África”, acrescenta.

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