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Competência e profissionalismo: a trajetória de Eliana Victório

Competência e profissionalismo: a trajetória de Eliana Victório
Eliana Victorio - Foto: Arquivo Pessoal
Eliana é um dos principais nomes do telejornalismo pernambucano.

O que faz uma pessoa pertencer a um lugar? Pela nossa Constituição Federal, além da nacionalidade por local de nascimento ou direito sanguíneo, uma pessoa pode ser considerada brasileira e obter o título pelo tempo que vive ininterruptamente no país. São necessários, assim, 15 anos de permanência em terras nacionais.

Imagine, agora, uma pessoa que está há quase 30 anos vivendo em um mesmo estado. Que durante todo esse tempo construiu uma sólida carreira, pautada pela seriedade e pelo profissionalismo. Que neste estado fincou raízes.

Pois bem, essa é uma breve contextualização para apresentarmos a segunda personagem da série de reportagens Negritude Pernambucana, produzida pelo site Roberta Jungmann. Hoje, nós vamos conhecer de perto a história da jornalista Eliana Victório, uma pernambucana de alma e coração, que há 28 anos se destaca no nosso universo da Comunicação.

Competência e profissionalismo: a trajetória de Eliana Victório
Eliana Victório na redação da TV Tribuna – Foto: Arquivo Pessoal
Competência e profissionalismo: a trajetória de Eliana Victório
Jornalista é um dos principais nomes do telejornalismo pernambucano – Foto: Arquivo Pessoal

Eliana chegou ao Recife em 1992, após receber o convite para trabalhar na Rede Globo Nordeste. Ela havia se formado sete anos antes, no curso de Jornalismo da Fundação Universidade Estadual de Londrina, no Paraná. Após concluir a graduação, passou pelas redações da Rede Globo em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, e da EPTV
– Empresa Paulista de Televisão, filiada à Rede Globo nas cidades de Campinas e Ribeirão Preto, em São Paulo.

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“Nasci no interior de São Paulo, em uma cidade chamada Araraquara, conhecida como Morada do Sol. Estou em Pernambuco desde 1992, e vim trabalhar aqui após receber um convite para ser repórter na Rede Globo Nordeste, empresa onde exerci as funções de repórter e apresentadora”, lembrou a jornalista.

Desde o primeiro momento, aliás, foi recebida com afeto pela cidade que escolheu. “Há 28 anos, escolhi o Recife para viver, e esta cidade me acolheu. E desde o momento que desci do avião, cheia de bagagens, mas principalmente de esperanças e expectativas, minha vida ali começava a mudar, ganhando uma nova dimensão”.

Competência e profissionalismo: a trajetória de Eliana Victório
Comunicadora está no Recife há 28 anos – Foto: Arquivo Pessoal

Atualmente, Eliana é coordenadora de edição e apresentadora na TV Tribuna, afiliada da Rede Bandeirantes no estado. Na emissora, inclusive, comandou por muitos anos o programa de entrevistas Ponto de Vista, exibido nas manhãs de sábado.

Desde o ano passado, quando precisou se afastar devido à problemas de saúde, o programa está fora do ar. Mas, talvez a pausa possa estar próxima de chegar ao fim. “Iria retornar este ano, mas veio a pandemia e novamente me afastei por causa da Covid-19. Vamos ver o que o futuro nos reserva”, comentou.

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Na última semana, a jornalista iniciou o projeto da TV Tribuna voltado às eleições municipais de novembro. Diariamente, nas tardes da emissora, ela apresenta a edição especial do Brasil Urgente Pernambuco, que entrevista os candidatos à Prefeitura do Recife.

Competência e profissionalismo: a trajetória de Eliana Victório
Jornalista comandou por muitos anos o programa Ponto de Vista – Foto: Reprodução
Neste registro, ela entrevista o o ex-governador de Pernambuco Joaquim Francisco – Foto: Reprodução

Apesar de ser hoje um dos principais nomes na área, estar à frente de um programa de entrevistas não foi um objetivo planejado conscientemente para a sua carreira. Mas, sim, uma oportunidade que surgiu e ela, com muita competência, aproveitou.

“Foi um desafio feito e como gosto de desafios e oportunidades, agarrei com unhas e dentes.  Mas não é algo fácil. A arte de entrevistar, não é apenas fazer uma série de perguntas, às vezes já elaboradas. Mas é saber fazer a pergunta certa, da forma correta e obter a resposta desejada. Um bom entrevistador no mínimo deve conhecer seu entrevistado, saber um pouco sobre o assunto a ser abordado, ter jogo de cintura e estar atento às respostas. Deve ser bem informado”, disse.

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Como repórter, aliás, também teve uma trajetória de sucesso. Prova disso são as inúmeras e importantes premiações que conquistou ao longo dos anos. “Entre os prêmios de jornalismo que recebi, destaco o Prêmio Cristina Tavares de Jornalismo Pernambucano, que ganhei por duas vezes, e o Prêmio Wlademir Herzog de Jornalismo Nacional, onde tive menção honrosa pela série de reportagens intitulada ‘Liberdade Aprisionada’, exibida pela TV Tribuna”.

Eliana Victório conquistou a menção honrosa Prêmio Vladimir Herzog – Foto: Arquivo Pessoal

Ela guarda com orgulho o reconhecimento alcançado com o Vladimir Herzog, considerado a premiação mais importante do jornalismo brasileiro. “O Prêmio Vladimir Herzog foi uma coroação pelo trabalho jornalístico que fizemos. Em 30 dias, gravamos mais de 35 horas, entre entrevistas e imagens. A série abordou a situação do sistema carcerário no Estado. Na época, 24 mil detentos vivam trancados em pavilhões, homens e mulheres que cumpriam pena num sistema defasado, ultrapassado e que as autoridades pareciam ignorar os direitos humanos. Com isso, a taxa de recuperação dos criminosos era insignificante”, analisou.

Apesar de reconhecer a importância da famosa premiação, todos os outros títulos também são lembrados com carinho. “Todos os prêmios que recebi foram importantes. Importantes enquanto reconhecimento profissional e importantes em relação aos temas que foram abordados. A série ‘Vida sem Teto’, abordou o problema da moradia, que ainda hoje é o drama de milhares de pessoas. Outra série foi ‘Onde mora a fome’. Quantos hoje, principalmente com a pandemia, não têm o que comer e vivem pelas ruas pedindo ajuda? É humilhante esta realidade”, disse.

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Além disso, Eliana preza, na verdade, pela significância das matérias. Desde aquelas que ajudam a população a buscar soluções para os problemas até as que revistam os contextos históricos. “É difícil escolher uma reportagem em 32 anos de carreira. Com ou sem prêmio elas tiveram sua importância. Do buraco de rua que atrapalha a vida de milhares de pessoas a uma viagem pela Espanha para contar a história de Vicente Yáñez Pinzón”, comentou, mencionando o navegador e explorador espanhol que teria chegado ao Brasil antes de Pedro Álvares Cabral.

Jornalista venceu Prêmio Cristina Tavares – Foto Arquivo Pessoal

O caminho para se consagrar na jornalista que é hoje, inclusive, foi repleto de dedicação. “No início da minha carreira, aproveitei todas as oportunidades que me deram, assim como as orientações e dicas para chegar à profissional que sou hoje. Profissionalismo, ética e compromisso com a sociedade são as palavras que me guiam nesta profissão que abracei”, destacou.

Aliás, a escolha da carreira não foi exatamente a planejada pelos pais. “Meus pais queriam que eu fizesse a faculdade de direito ou então odontologia. Mas era a minha vida, e sem desanimá-los, disse não. Cheguei a estudar filosofia como aluna ouvinte, até que escolhi o que desejava para meu futuro, jornalismo. E fui estudar em outro Estado, no Paraná”, recordou.

Eliana Victório é coordenadora de edição e apresentadora na TV Tribuna – Foto: Arquivo Pessoal

A estudante se formou, mudou-se para o Recife, tornou-se um dos principais nomes do telejornalismo em Pernambuco e, agora, também compartilha sua experiência com jovens que querem aprender com ela nos cursos e palestras dos quais participa. “Dividir experiências, orientar, ensinar para mim é algo gratificante. É uma forma de você ajudar as pessoas. E é claro que a gente aprende também. Quantos já não se espelharam em você? No entanto, também é uma responsabilidade, pois todos esperam, e esperam muito, de você. E às vezes você não pode falhar, não pode errar. É um desafio”, avalia.

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Trazendo consigo uma importante carga de representatividade, por ser mulher, negra e há muito tempo ocupar espaço de destaque no telejornalismo pernambucano, Eliana conta que já percebeu olhares preconceituosos, mas, sabiamente, nunca se sentiu inferior.

“Os pernambucanos me receberam de braços abertos, e não me avaliaram pela cor da minha pele. É claro que vivi situações onde muitos diziam ‘que legal, uma repórter negra, maravilha, e além de tudo de olhos verdes’. Por outro lado, às vezes um olhar já mostrava que a pessoa era preconceituosa. Mas aprendi que sou Eliana Victório, e que sem ser agressiva, nunca vivi o tal sentimento de inferioridade. Em todo os anos que estou aqui, uma vez ouvi um comentário, e feito infelizmente por um colega de profissão. Não vou recordar o fato, mas na época, diretores da empresa onde eu trabalhava saíram em minha defesa, e a pessoa tentou se explicar, mas não conseguiu. O preconceito existe, é velado e cruel”, avaliou.

Profissionalismo é uma das características mais prezadas por ela – Foto: Arquivo Pessoal

Recentemente, durante a pandemia, a jornalista foi diagnosticada com coronavírus. Passou duas semanas internada e contou com o apoio de famílias e amigos nesse difícil momento. Além disso, não deixou em momento algum esmorecer a sua fé. “Não vivo sem Deus. E Ele cuidou de todos os detalhes para que eu não me sentisse sozinha nem triste durante o período em que fiquei no hospital”, disse.

A internação ocorreu no início de agosto e a recuperação está em andamento. “Fui diagnosticada com Covid-19 no dia 6 de agosto, data em que foi internada num hospital do Recife (Português). As duas semanas que fiquei internada foram longas, mas Deus se fez presente de várias maneiras, e por nenhum momento me senti só. Médicos, enfermeiras, assistentes de enfermagem todos cuidaram de mim com muito carinho e atenção. A internet ajudou a estar próxima da família (marido e irmãos) e dos amigos. Todos foram importantes tanto na fase do hospital, mas principalmente nesta etapa de recuperação, pois as sequelas da Covid-19 nos deixaram sem ação. Pelas redes sociais, recebi muitas mensagens de força, coragem, estímulo e isto foi superlegal, ajudou muito. Foi e está sendo muito importante. Meu paladar [ainda] não está completo e continuo a fazer fisioterapia respiratória. É um processo longo, mas família e amigos, virtuais ou não, têm ajudado”, explicou.

Após a hospitalização, a importância das coisas ganhou novos significados. “Acho que a palavra não é renascer, mas sim, reavaliar a vida, seus valores e principalmente o que deve ser prioridade. E com isto, buscar ter uma vida mais saudável, sabendo o que realmente é importante para sermos felizes”.

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Ao longo desses 28 anos radicada no Recife, Eliana Victório conta que recebe o reconhecimento e o carinho do público com muita humildade, respeito e alegria. É nessa troca, inclusive, que ele encontra o termômetro para avaliar a sua atuação. “O retorno do público é importante, pois com isto posso saber se estou no caminho certo do meu trabalho”, diz.

Em 2013, toda essa relação de amor com a cidade foi reconhecida formalmente. Ela recebeu da Câmara Municipal o título de cidadã recifense. “O Recife me recebeu de braços abertos, e como fui ensinada pelos meus pais, honrei e venho honrando todo o carinho que recebi até hoje. Carinho das pessoas que mesmo sem saber quem sou, passaram a me respeitar, a admirar meu trabalho, e de longe ou perto a aplaudir. E o melhor, sem pedir nada em troca, a não ser compromisso, profissionalismo, seriedade e a verdade. Obrigada às Marias, às Severinas, aos Joãos, aos Josés. Obrigada aos amigos de jornada com quem já dividi sorrisos, gargalhadas, preocupações e lágrimas”.

Eliana Victório exibe título de cidadã recifense – Foto: Arquivo Pessoal

A dois anos de completar três décadas vivendo em Pernambuco, sair do estado nem passar pelos seus pensamentos.  “Amei esta terra que escolhi para viver. A cada dia que passa crio raízes mais profundas, igual à uma árvore, o que significa que não pretendo ir embora”, afirma.

A proposta do título foi do então vereador Henrique Leite – Foto: Arquivo Pessoal

Com uma carreira de grande sucessos, Eliana Victório revela que ainda tem sonhos a realizar. Até porque, eles renovam a esperança na vida. “Não podemos parar de sonhar, caso contrário morreremos. Então, tenho sim alguns sonhos, que estou aos poucos transformando em projetos. E quem sabe serei abençoada, e um dia, em breve, alguns deles se tornem realidade”.

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  • Em Águas da Prata no bairro da Cascata, na casa do nosso saudoso tio PRETO (José Lourenço Barbosa),há uma foto da Eliana Victório entrevistando nosso tio,na década de 1980,o então morador mais velho do lugar;Pela TV Campinas (atual EPTV)