Entrevista

Gerlane Lops representa a resistência do samba

Gerlane é felicidade total com a homenagem que recebe do Carnaval do Recife - Jose Britto
A cantora, que está na estrada há 27 anos, foi coroada, em 2019, com o título de homenageada do Carnaval do Recife
Despretensiosa e absurdamente focada, Gerlane Lops colhe os frutos dos 27 anos de carreira em 2019: é a homenageada do Carnaval do Recife, uma reverência que recebe como sempre foi na sua vida, de peito aberto e determinação total. A cantora conversou com o site RJ numa manhã de muito sol, no Catamaran, com o Capibaribe de testemunha. Ao se preparar para conceder a entrevista, Gerlane pediu a ajuda do produtor, Saulo Aleixo, para retirar um daqueles adesivos para dor muscular. O cansaço era visível, bem como a vontade de fazer o seu melhor.
A conversa com a cantora rolou no Catamaran Tours – Foto: Jose Britto
A trajetória de uma das nossas mais representativas sambistas começou aos 17 anos, quando, aliás, já afoita, criou uma orquestra. Foi na ausência da cantora em um dos eventos que Gerlane se criou: “Eu vou cantar”, disse para o seu sócio à época. E assim o fez. A partir daí, ela não parou mais. Deu início aos estudos musicais na Universidade Federal de Pernambuco e começou a identificar que era uma apaixonada pela técnica, harmonia, pela música bem feita.
O samba conquistou Gerlane e não teve como fugir desse encontro – Foto: Jose Britto
“O samba apareceu na minha vida de maneira inusitada”, conta. Mas foi match total, não teve nem como fugir. Hoje, a pernambucana é consagrada  nome de expressão não só no Estado, mas nacionalmente, com a admiração de nomes como Alcione e Mariene de Castro, esta última, aliás, quando soube da reverência à amiga, celebrou: “Que bom que você está recebendo flores em vida”. As inspirações do ritmo passam por Clementina de Jesus, Clara Nunes, Ivone de Lara e tantas outras. Mas quem teve papel importante mesmo, musicalmente falando, foi Zizi Possi, que carrega um significado todo especial na vida de Gerlane: o seu primeiro LP foi um trabalho de Zizi.
As inspirações passam por Ivone Lara, Clara Nunes e Clementina de Jesus – Foto: Divulgação
O fato de ser mulher num ambiente em que homens estão quase sempre no comando em nenhum momento intimidou a musicista, produtora e incansável pesquisadora. “Preconceito eu sofro até hoje, mas eu acho que o melhor que a gente pode fazer em situações assim é saber do que faz e fazer cada vez melhor”, explica. Ela levou tão a sério a premissa que comanda três orquestras, compõe, toca e canta. Mas nem sempre foi fácil conciliar tudo isso. Gerlane pensou em desistir várias vezes. “Toda vez que eu pensava em deixar tudo, algo de muito bom acontecia para que eu voltasse”, lembra.
Em todas as vezes que a cantora pensou em desistir da carreira, sempre ocorreu algo que a fez voltar atrás – Foto: Jose Britto
Apesar do talento incontestável, Gerlane faz questão de dividir esta homenagem concedida pela Prefeitura do Recife com todos os que vivem do ritmo no Estado: “É o samba de Pernambuco que está sendo coroado. Eu sou só uma representante. Isto é para as famílias que criaram os seus netos e filhos através do samba”.  E são todas essas pessoas que ela quer reverenciar na grande noite de abertura do carnaval, dia 1º de março, no Marco Zero.  Vai dividir o palco com nomes do porte de Péricles, Mariene de Castro, Siri do Cavaco, Serginho Miriti, Marcelinho Moreira, Rodrigo Leite e mais. Rolou até um convite a Maria Bethânia, mas a baiana já tinha outro compromisso.
Mariene de Castro e Péricles sobem ao palco com Gerlane na abertura do carnaval do Recife, dia 1º de março – Foto: Divulgação

 

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