À mesa Entrevista

A shiraz e os novos vinhos da Miolo no Vale do São Francisco

Adriano Miolo falou sobre os novos vinhos e a produção no Vale do São Francisco - Foto: Divulgação
O enólogo Adriano Miolo falou sobre como o Vale do São Francisco vai ampliando a vinicultura nacional

Site Roberta Jungmann deu início no dia 24 de agosto a uma parceria colaborativa com o jornalista Bruno Albertim. Especializado em cultura e gastronomia, o também antropólogo trará a este portal todas as novidades do universo gastronômico do país, com publicações recheadas de análises e sugestões do setor. A entrevista com o enólogo Adriano Miolo é a terceira delas.

Por: Bruno Albertim*

Há mais de uma década, quando os vinhos do Vale do São Francisco chamaram mais atenção no resto do mundo, a britânica Jancis Robinson se disse surpresa. Papisa mundial da crítica de vinhos, Robinson não imaginava ser possível vinhos produzidos no calor do chamado paralelo 8 com resultados tão surpreendentes. Hoje, os vinhos do vale vão além dos espumantes mais adocicados dos primeiros tempos – o açúcar excessivo é resultado da insolação constante que garante até duas safras por ano.

Mais antiga vinícola do país, a Miolo está presente no Nordeste desde 2001. Confirmando o bom momento do vale, a vinícola acaba de lançar seis novos rótulos na linha Terranova – inclusive um varietal com a shiraz, uva que segue confirmando sua boa expressão no terroir local. Nesta entrevista exclusiva a Bruno Albertim, o enólogo Adriano Miolo fala sobre os novos vinhos e de como o Vale do São Francisco vai ampliando a vinicultura nacional:

O enólogo Adriano Miolo – Foto: Divulgação
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A shiraz aparece em três rótulos dessa nova linha, inclusive num varietal. Já foi, também, parte de um corte que marcou época pelas mãos do francês Michel Rolland. Após 18 anos do projeto no sertão, como avaliam a resposta dessa uva no terroir nordestino?

A Shiraz é a grande variedade emblemática do Vale do São Francisco. Posso afirmar isso, pois foi a primeira variedade das tintas que se adaptou na região. Nosso primeiro vinho elaborado com a uva nasceu em 1999. Já existia plantio da Shiraz na região e nesses 20 anos de atuação da Terranova no Vale do São Francisco percebemos claramente que esta uva, no momento, é a uva entre as tintas que mais se destaca. Com ela, elaboramos e lançamos grandes vinhos como o Testardi, o ícone tinto da Terranova; o Single Vineyard Shiraz Parcela Única, retomamos o Terranova Shiraz, além dos cortes Terranova Reserve Grenache, Shiraz e Mourvèdre o Terranova Vintage Cabernet Shiraz, este suave, especialmente pensado para o paladar do consumidor nordestino.

A Shiraz é a base dos novos vinhos da Miolo – Foto: Divulgação

Qual a importância do projeto Terranova, em termos percentuais de volume e faturamento, nos negócios da Miolo no Brasil?

O projeto Terranove corresponde a um terço do faturamento da Miolo no Brasil. O volume varia de safra para safra, mas normalmente também representa um terço do total.

Por que, entre os lançamentos, apostar num vinho suave?

Ao longo dos anos, percebemos que existe uma grande demanda por este tipo de produto. O mercado, até então, oferecia vinhos suaves elaborados com uvas de mesa. Ao lançar um vinho suave feito com uvas viníferas estamos propiciando ao consumidor muito mais qualidade na taça, engarrafando aromas superiores.

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A Verdejo aparece num varietal reserva…Como tem sido o cultivo dessa uva?

A verdejo é uma uva branca que vem apresentando uma boa performance no Vale do São Francisco. Esta uva se revelou para o vinho base espumante Terranova e foi ela que originou o primeiro vinho branco na região. Em razão disso, ampliamos o plantio desta variedade. Junto com ela, temos a Moscato Itália, Chenin Blanc e Sauvignon Blanc.

Uvas como a chenin e a muscat, de residual de açúcar sempre um pouco maior, parecem se encaixar perfeitamento na ensolação do Vale do São Francisco…

Com a chenin muscat, elaboramos um vinho branco suave com açúcar residual e um frescor aromático para que o consumidor nordestino entenda como o vinho do Nordeste é fácil de ser degustado, apreciado. Este vinho tem a cara do Nordeste, é elaborado com uvas daqui do Vale do São Francisco, o que o torna ainda mais típico. Quanto ao terroir nordestino, posso assegurar que é algo completamente diferente quando falamos de Brasil e também um grande diferencial no mundo. Aliás, poucos lugares no mundo são semelhantes. Podemos destacar o Norte do Peru, porém muito recente, a Tailândia e a Índia. O terroir do Vale do São Francisco é diferenciado. O clima é tropical seco, o que permite fazer vinhos muito diferenciados do resto do Brasil. Certamente, este terroir vai ser ainda muito estudado no futuro, podendo atrair grandes investimentos.

Vinhedo no Vale do São Francisco – Foto: Divlgação
Vinícola no Vale do São Francisco – Foto: Divulgação

Alguma novidade prevista para a área de espumantes?

Temos muitas novidades em espumantes neste ano. Lançamos uma nova linha de espumantes que carrega a marca Almadén, todos elaborados com uvas cultivadas no Vale do São Francisco e feitos aqui, em nossa unidade na cidade de Casa Nova, na Bahia. Nesta linha, lançamos o Brut, o Demi Sec, o Brut Rosé e o Moscatel Branco. Decidimos fazer os vinhos Almadén com uvas cultivadas na Campanha (RS) e os espumantes da marca com uvas do Vale do São Francisco por entendermos os diferenciais de cada terroir. Aqui, o terroir é propício para espumantes jovens, aromáticos, ideais para quem deseja descontração, versatilidade, além de serem bem aceitos entre o
consumidor entrante no mundo do vinho.

Outro lançamento que chega ainda este ano são os moscatéis frisante, estreando em nossa portfólio. Acreditamos muito nesse produto. E também estamos temos o projeto do suco de uva integral, sem conservantes, com grande potencial. Nosso suco é tropical, resultado de colheita diária.

Conheça melhor os novos vinhos da Miolo:
Novos vinhos da Miolo – Foto: Divulgação

Terranova Reserve Grenache, Shiraz e Mourvèdre – Trivarietal, é um vinho aromático de média intensidade. Possui coloração vermelho-rubi e nuances violáceos. Apresenta aroma frutado que lembra framboesas e cerejas silvestres. Tem corpo médio e boa acidez.

Terranova Reserve Verdejo – Varietal elaborado com uvas da variedade Verdejo, cultivadas em vinhedos próprios. É um vinho elegante, fresco, frutado e com boa acidez. Possui nuances esverdeadas, aroma de frutas cítricas com um toque de mineralidade.

Terranova Shiraz – Este vinho tem origem na árida e cálida caatinga. Jovem e com frutado típico, tem estrutura leve, boca macia e redonda, baixa intensidade ácida e bom equilíbrio no nariz e na boca.

Terranova Chenin Blanc – Apresenta média intensidade de cor amarelo palha com aromas de flores e frutas.

Terranova Vintage Cabernet Shiraz Suave – Apresenta cor rubi com tons violáceos e púrpura. Tem aroma de frutas vermelhas com toques de especiarias. Macio e adocicado.

Terranova Vintage Chenin Muscat Suave – Bivarietal elaborado com as uvas Chenin Blanc e Moscato. Esverdeado, com leves tons dourados, tem aroma almiscarado e floral com toque cítricos. Presença de açúcar residual marcante.

*Bruno Albertim é antropólogo e jornalista especialiazado em cultura e gastronomia. Membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte, é autor, dentre outros,  de Tereza Costa Rêgo – uma mulher em três tempos (Cepe Editora) e de Nordeste – Paisagem Comestível (Editora Massangana – Fundação Joaquim Nabuco), a ser lançado até o final de 2019. Ganhou um prêmio Esso de Jornalismo (2013) com reportagens ligadas ao universo da alimentação no Nordeste. Gosta de comer e cozinhar profissionalmente e quando não tem qualquer obrigação para isso.

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