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Projeto #Cuidar: o perigo da obesidade no Brasil

Renata de Castro

Segunda causa de morte no mundo e considerada epidemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade cresceu no Brasil 67% entre 2006 e 2018, de acordo com levantamento do Ministério da Saúde.

Embora mais brasileiros estejam incorporando frutas e hortaliças na dieta e praticando atividades físicas, a mudança de comportamento de alguns ainda precisa ser seguida pela maioria, considerando que mais da metade da população, 55,7%, tem excesso de peso. Jovens de 18 a 24 anos puxam essa alta no índice e mulheres apresentam o crescimento de 40% frente aos homens com 21,7%.

Em relação à diabetes, nove milhões de brasileiros estão com a doença, segundo dados do Ministério da Saúde, o que corresponde a mais de 6% da população. Já os números da Sociedade Brasileira de Diabetes indicam mais de 12 milhões de pessoas no Brasil diabéticas. O projeto #CUIDAR, da jornalista @karina_maux, conversou com a médica residente de Endocrinologia e Metabologia do Hospital Agamenon Magalhães, Renata de Castro, sobre o assunto.

“O mundo globalizado trouxe consigo diversos e incontestáveis benefícios para a vida moderna, entretanto, trouxe também um cotidiano agitado, ansioso no qual cada vez mais as pessoas estão sem tempo para nada, onde é mais fácil passar naquele fast-food ou pedir aquela pizza, pois considera-se que comer algo saudável desprende muito tempo. E tempo para se exercitar? O que mais escuto em consultório é: “Ah doutora! Não tenho tempo”, afirma a médica Renata de Castro.

Renata de Castro

Mas será que é certo viver assim? Será que a saúde só pode assumir seu primeiro lugar de direito nas vidas das pessoas quando ela corre ameaças ou está falha?

“A epidemia de obesidade vem crescendo em ritmo galopante mundo afora. Cada vez mais crianças obesas, filhos de pais obesos, vão fechando o ciclo da perpetuação das doenças”, alerta a médica e acrescenta: “o diabetes tipo 2, que outrora era diagnosticado muito mais em pacientes de meia idade, hoje já faz parte do cotidiano de crianças e adolescentes que lutam contra o sobrepeso e obesidade”.

A resistência a ação da insulina, de acordo com a médica Renata de Castro, figura como elo entre estas duas doenças crônicas – obesidade e diabetes 2 – cujo tratamento demanda de esforços coletivos: paciente, médico e equipe multidisciplinar.

Sendo o diabetes melitus uma doença crônica, ou seja, não há cura, mas sim controle, se faz urgente e imprescindível manter a harmonia do “tripé terapêutico”: ajustes da dieta, prática regular de atividades físicas e tratamento medicamentoso. “Sem os devidos cuidados em manter os bons hábitos (alimentação saudável e atividade física programada), o tratamento medicamentoso não é tão eficaz como potencialmente deveria ser”, assegura a médica Renata de Castro.

Não há mistério ou fórmulas mágicas, como muitos gostariam. “Ajustes dietéticos, sempre prescritos por um nutricionista, são fundamentais para obtenção e manutenção de níveis adequados dos açúcares no sangue e prevenir as mais diversas complicações”. Se mal controlada implica em diversos danos à saúde.

“O estado constante de hiperglicemia gera um processo inflamatório importante no organismo como um todo, favorecendo complicações a curto prazo (maior risco de infecções graves) e também as complicações a longo prazo, com grande impacto na qualidade de vida (as que são decorrentes de longo tempo – anos – de diabetes mal controlado), são elas: chances aumentadas de infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, doença renal crônica (com necessidade de hemodiálise), cegueira e amputações”, explica.

“Tudo isso gera um grande impacto na vida não só do paciente, mas também da família e do sistema de saúde e econômico como um todo”, analisa.

O diabetes melitus, de acordo com a explicação da médica Renata de Castro, é um estado de hiperglicemia crônica, ou seja, aumento nas taxas de glicose no sangue por longo período. “Existem dois tipos de diabetes: o tipo 1, que tem seu diagnóstico mais em crianças e adolescentes e está ligado a defeitos de autoimunidade nas células do pâncreas (órgão que produz insulina) e o tipo 2, cuja prevalência é maior em indivíduos de idade média em torno da quarta e quinta década de vida, mais relacionado inicialmente a resistência à ação da insulina nas células, sendo o tipo mais determinado não só por fatores genéticos (mediada por diversos genes), mas também por grande influência de fatores ambientais tais como alimentação e estilo de vida”.

Há muito vem se estudando qual seria a dieta ou estratégia nutricional ideal para tratamento do diabetes mas, de forma mais correta, as propostas devem ser sempre individualizadas, como ensina a médica Renata de Castro. “As estratégias nutricionais que têm por base as dietas DASH e Mediterrânea – as quais há incentivo do consumo de cerais, vegetais e frutas, além de ingesta moderada de carnes magras e derivados lácteos com baixo teor de gordura – são consideradas bastante saudáveis para o bom funcionamento metabólico do organismo, saúde óssea e prevenção de doenças”, orienta a médica residente de Endocrinologia e Metabologia do Hospital Agamenon Magalhães, Renata de Castro.

“O consumo de açúcar refinado é definitivamente inapropriado para os diabéticos. E isso deve ser entendido não só como o açúcar cristal em si, mas também qualquer outro tipo de açúcar, doces, pães, bolos, massas ou demais preparações com farinhas simples”, alerta.

“O consumo de derivados lácteos com baixo teor de gordura pode ser incentivado, sem problemas, desde que o paciente não seja sabidamente intolerante a estes produtos”, avisa. “O consumo de cálcio deve ser advindo prioritariamente da dieta, visando uma boa saúde óssea”, completa.

Por fim, a médica Renata de Castro assegura que o engajamento do paciente com seu próprio tratamento é fundamental. “As mudanças no estilo de vida devem ser amplamente buscadas, dia a dia, e cada conquista é válida em prol do bem-estar físico e mental”.

Diabética tipo 1 desde os 10 anos de idade, por fator hereditário, a profissional de Educação Física e Engenheira Civil, Ericka Acioly, encontrou na prática regular de exercício físico e, claro, numa alimentação saudável, dois fortes aliados para seguir firme no controle da doença. “Sempre fiz atividade física. Desde criança até os dias atuais”, afirma. “O melhor controle da diabetes é a dieta conciliada à prática de alguma atividade física”, assegura.

Ao longo dos 22 anos de convívio com a doença, Ericka nunca teve nenhuma complicação. “Mas quando eu era mais nova tinha muita hipoglicemia, pois passava do horário de comer por conta do corre-corre da faculdade, dos estágios e estudos. Hoje já consigo me organizar melhor”, diz, aliviada.

Por semana, a profissional de Educação Física treina de quatro a cinco vezes. “Minha profissão me ajuda muito. Já que sou da área e gosto de me exercitar, facilita”. Além do estilo de vida saudável, para manter as taxas normais, Ericka faz uso de duas medicações: Insulina lantus e Novorapid. “Desde os 10 anos tomo insulina. Meu pâncreas não produz esse hormônio”.

Também leva a sério as suas consultas médicas. “A cada seis meses, vou ao meu endocrinologista. Como sou uma diabética controlada, então esse é o tempo que o meu médico estipula como prazo para eu voltar à consulta. Também faço exames nesse período ou de ano em ano, mas tudo de acordo com a orientação médica”. “Todos os meus exames sempre dão normais e eu atribuo muito a atividade física”.

Ter uma alimentação saudável significa dar preferência a alimentos in natura, que possuam alto valor nutritivo. Os que carecem de vitaminas e nutrientes fundamentais para o organismo, com o tempo leva a maior incidência de doenças como pressão alta, diabetes, colesterol alto, hipertensão, entre outras. “Hoje faço dieta com base nas últimas planilhas que tive. Mas como estou em busca de outros objetivos, procurei um nutricionista para organizar a minha nova dieta, com base nos resultados que quero alcançar”, informa.

No café da manhã, Ericka come pão integral e queijo ricota. “Às vezes troco por ovo”. No jantar, o cardápio se repete, mas, em alguns momentos, ela prefere macaxeira ou inhame, adicionando alguma proteína. Já no almoço, “arroz, feijão, salada e também proteína”. “Tento sempre incluir frutas: laranja, melancia, abacaxi. Tudo com cautela porque, apesar de ser fruta, existe a frutose, que, em excesso, não faz bem”. “Tento controlar isso fazendo a medição da glicemia. E já entendendo, por experiência, que algumas frutas elevam mais a minha glicose”, explica.

Quanto aos possíveis desejos pelos alimentos dito “proibidos”, Ericka admite que é raro não conseguir resistir. “Quando acontece, eu tomo um pouco mais de insulina. Faço a velha contagem de carboidratos para poder ver a dose necessária”.

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