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Victoria’s Secret: crise vai além da pandemia

A marca anunciou fechamento de lojas nos EUA e Canadá — Foto: Divulgação
A gigante de lingeries está fechando 1/4 das lojas na América do Norte, mas seus problemas são anteriores à Covid-19

Nem todas as empresas estão conseguindo se adaptar às mudanças impostas pela pandemia do novo coronavírus, mas algumas delas têm problemas anteriores a tudo isso. É o caso da Victoria’s Secret, gigante californiana de lingeries. No dia 21 de maio deste ano, a L Brands, proprietária da marca, anunciou que fecharia 251 das mais de 1 mil lojas da Victoria’s Secret nos Estados Unidos e Canadá, uma redução de 25% no total de unidades desses países.

“Angels” no desfile de 2018 — Foto: Aangela Weiss/AFP

A decisão foi imediatamente associada à pandemia da Covid-19, que tem provocado uma crise em todo o setor da moda. Entretanto, a derrocada da Victoria’s Secret começou bem antes. De 2010 para cá, a marca se viu envolta em sucessivos escândalos sobre racismo, apropriação cultural e falta de representatividade. A maioria deles, reações do público e da mídia ao icônico desfile anual das “angels“, o Victoria’s Secret Fashion Show.

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Emanuela De Paula no desfile de 2010 — Foto: Reprodução/Pinterest

Em 2010, o evento causou polêmica devido aos looks de “estilo tribal” que foram apresentados na passarela. A modelo brasileira Emanuela De Paula foi pintada com linhas pretas, o que foi interpretado pela mídia como apropriação da cultura africana e racismo.

Seis anos depois, o desfile foi novamente acusado de apropriação cultural. As asas e cauda de fogo de Kendall Jenner, a fantasia de dragão de Elsa Hosk e as botas altas até as coxas de Adriana Lima causaram comoção negativa. O público não considerou apropriado mulheres de outras origens usarem itens importantes das culturas chinesa e mexicana.

Ed Razek fala com as modelos da passarela, nos bastidores do desfile de 2018 — Foto: Dia Dipasupil/Getty Images para Victoria’s Secret/AFP

De agosto a novembro de 2018, a L Brands registrou um declínio nos lucros da Victoria’s Secret e uma queda de 7% nas vendas das lojas físicas. Em meio a essa crise, o diretor de marketing Ed Razek fez comentários que foram considerados transfóbicos em entrevista após o Victoria’s Secret Fashion Show. “Nós deveríamos ter transsexuais no desfile? Não. Não, acho que não devemos. Bem, e por que não? Porque o show é uma fantasia”, disse na época. A declaração recebeu reação imediata de muitas personalidades da indústria, incluindo a modelo trans Carmen Carrera. Dias depois, Razek acabou se desculpando.

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Loja da Victoria’s Secret em Miami — Foto: Reprodução/Pinterest

Mas a crise do final de 2018 levou a um corte anunciado no primeiro trimestre de 2019: a Victoria’s Secret fechou 53 lojas nos EUA depois que suas ações caíram 40%. Em agosto, a varejista lançou sua primeiro modelo abertamente trans, a brasileira Valentina Sampaio. Entretanto, dias depois que ela foi contratada, Razek deixou o cargo, reacendendo a polêmica de transfobia enfrentada pela marca no ano anterior. Tudo isso culminou para o anúncio, em novembro, de que a marca não iria mais realizar seu desfile anual.

Agora, no ano de 2020, o anúncio do fechamento permanente de 1/4 das lojas da Victoria’s Secret na América do Norte colocou em dúvida a situação de unidades da varejista em outros países. Estima-se que até 2 de maio, a queda nos ganhos da empresa foi de 37%.

Com informações do portal de varejo britânico Retail Gazette.