Confira deliveries que unem qualidade na gastronomia e na entrega

 

por Bruno Albertim

Com o fechamento provisório dos restaurantes em função da pandemia, a maior parte dos chefs se vê no desafio de convencer o público de que suas gastronomias podem ter tanta qualidade na entrega em casa como no serviço do salão. Na avaliação do nosso colaborador Bruno Albertim, alguns deliveries que passam no teste com louvor:

 

 Morosi

Nas padarias e pizzerias da cidade, há grandes escolas de fermentação. Mas na Morosi, instalada na Praça de Casa Forte, temos não menos que uma universidade.

Que nos desculpe a concorrência, dificilmente uma massa de pizza terá alcançado tamanho resultado. São 72 horas de fermentação, uso exclusivo de farinhas italianas, com levains, os fermentos naturais, cultivados há décadas pela família a partir de suas matrizes.

O resultado: uma massa perfeitamente aerada – e, os grandes sabem, nada aporta mais camadas de sabor a uma massa que o contato gradual e cuidadoso com o ar. Crocante na superfície e confortavelmente elástica no interior.

Feito com tomates espremidos à mão, o molho é outro ponto – e bastaria ele como passaporte da felicidade. Mas não basta: há coberturas tradicionais, como a marguerita, ou outras quase: como uma amatriciana de cebola caramelizada, bacon e parmesão. Ou a da presunto cru, lâminas finamente depositadas após a saída do forno. E que alguém, por favor, canonize quem resolveu ali inventar a cobertura de pêra assada com gorgonzola

Sim, romana, a pizza da Morosi tem aquele formato entre o oval e o quadrangular. Ali também é a sede da Belluci, uma tradicionalíssima gelateria italiana, artesanal, e que nos entrega os sorvetes devidamente cremosos e gelados em casa.

O cuidado e a qualidade no delivery fazem parecer que a pizza de fato saiu há pouco do forno.  A depender do tamanho e ingredientes empreendidos, os preços variam entre R$ 34 e R$ 97. Divina seja a fermentação. Fone deles: 3877-7290.

Feijoada Vó Odara

Há umas servidas por aí que poderiam até derrubar o status de símbolo comestível nacional da iguaria. Mas esta, pro nosso deleite, poderia até entrar em samba com letra de Chico Buarque de Hollanda.

Francisco Reis aprendeu a fazer a feijoca com a mãe, Dona Ângela. Como “feijoadeiro” oficial dos encontros da família e amigos, acabou por ver mensagens sem parar em seu celular lhe pedindo para vender o prato nesses dias de distanciamento. No começo reticente, resolveu encarar o serviço. Temos agora, pois, a Feijoada Vó Odara.

Odara era o antigo apelido de dona Ângela. “Uma vez, nós a encontramos muito animada num pagode na Madalena chamado Odara. O nome pegou na hora, e as amigas todas passaram a lhe chamar de Vó Odara”, ele conta.

O cozido de feijões pretos vem enriquecido por embutidos e pedaços de carne seca muitíssimo bem tratados, dessalgados, não apenas “coadjuvantes entulhados”, mas cortes de grande sabor e textura no conjunto.

A carne se desmancha em lascas; as linguicinhas têm gosto de pequenas trelas. Mais arroz branco, laranja, come il fault, couve puxadinha no bacon, e uma farofinha que ganha todos os testes de crocância.

Há também bolinhos de feijoada. A porção de um litro de feijoada, para dois ou três…custa R$ 6O. A de meio litro, para um (glutão } ou dois, R$ 4O. As encomendas devem ser feitas apenas até o meio dia das sextas, para entrega no final de semana. Pelo 98529 -5589. Ou direto no @feijoadadavoodara.

Reteteu

Com esse chef, a tão propalada descolonização da cozinha brasileira não é só teoria. Mas prática e deleite Com a pandemia, Thiago das Chagas reforça a oferta de clássicos de seu Reteteu Comida Honesta. Um deles: cupim num demi-glace delicadíssimo de mel de engenho (muito sutil, uma acidez adocicada} com um vinagrete dos deuses, farofa crocante, arroz e macaxeira frita.

 E o que o comuníssimo cupim tem de mais? No Reteteu, a carne cozinha por horas à vácuo e em baixíssima temperatura, suas gorduras se dissolvem, seus sucos envolvem os cubos de carne que, carícias ao paladar, quase se desfazem na boca.

Neste momento, eles só entregam para almoço.Ponto alto para as embalagens: vedadas à vácuo, deixaram a comida ainda fresquinha no momento em que pude reesquentá-la. Os pratos individuais custam a partir de R$ 3O e poucos e os duplos, a até cerca de R$ 9º. Pelo: https://deliverydireto.com.br/reteteucomidahonesta/reteteucomidahonesta.

Toscana Tratoria

Sofisticado e, sem qualquer contradição, tradicionalíssimo, o Toscana Tratoria, no Pina, é ponto mais que seguro para a cozinha italiana na cidade. O cardápio desenvolvido pelo chef Thiago Vitta traz inovações sóbrias, cosmopolitas, mas respeitando procedimentos seculares que poderiam estar talhados em pedra pelas nonnas.

Para estimular a adesão, a casa está com uma promoção que é um verdadeiro presente nestes dias de isolamento. Pelo preço – reduzido – de um principal, temos entregue em casa um menu executivo completo. Ou seja, da entrada à sobremesa.

Uma das opções é o filé alto com rôti e um ótimo risoto de grana padano. Outra,  um papardelle da casa com um ragu bem pedaçudo de suíno, de molho cozido com a paciência dos papas. De entrada, uma tortinha quente de Primna Dona e pão italiano com geleia de frutas vermelhas. De sobremesa, mousse de chocolate intenso, belga da primeira à última colherada, e tortinha creme de banana, quase uma banoffe.

Vamos à conta¿ R$ 39,9O, o menu com ragu e R$ 55, 9O, o com filé.

Sim, à noite corre o cardápio normal com te-sou-ros como o risoto trufado de cordeiro. Pelo (81) 3314-7071 ou no @toscanatrattoria.

Arvo

Já dissemos por aqui, mas repetimos: com menos de 30 anos, o chef Pedro Godoy já viajou muito pelo mundo cozinhando e aprendendo e, hoje, faz parte de um panorama fundamental da gastronomia brasileira,  uma nova gastronomia afirmativamente descolonizada.

No Arvo, ele confirma que sua geração quebra de vez o mito de que para se fazer alta gastronomia é preciso recorrer aos expedientes militarizados na alta escola francesa.

Fresca, nova, descomplicada, serviço informal, sua cozinha traz a brasilidade dos novos tempos. O cardápio de delivery tem pratos individuais, facilmente convertidos em petiscos, ou porções mais generosas, para dois. Como o Pad Thai (R$ 45}, uma massa tipo bifun com espaguete de legumes ao molho oriental de gengibre e amendoim. Ou a moqueca de peixe frito com camarão, mais arroz de coco e farofa de banana da terra (R$ 1OO }. O pernil de carneiro ( R$ 85, também para dois } é assado em baixa temperatura e servido no próprio molho com legumes orgânicos e farofa de jerimum com arroz de lentilha, bem árabe, com cebola frita.