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Morre o carnavalesco Laíla, vítima da Covid-19

Foto: Brenno Carvalho
Segundo maior vencedor do carnaval carioca, Laíla tinha 78 anos

Morreu nesta sexta (18), aos 78 anos, o carnavalesco Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, o Laíla. Quem confirmou a informação foi a neta do diretor de carnaval.

Internado no Hospital Israelita Albert Sabin, na zona norte do Rio de Janeiro desde o último fim de semana, Laíla é mais uma vítima da Covid-19.

A Beija-Flor, escola de samba ao qual integrou a comissão de carnaval entre 2003 e 2018, onde conquistou oito títulos do carnaval carioca, lamentou a morte em nota:

“Com tristeza e pesar, a Beija-Flor de Nilópolis informa aos sambistas e à sociedade nilopolitana e fluminense a morte de seu ex-diretor de Carnaval Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, o Laíla, aos 78 anos, nesta sexta-feira, 18. Acometido pela Covid-19, ele estava internado desde sábado, 12, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Israelita Albert Sabin, na Tijuca, Zona Norte.

Laíla havia recebido as duas doses do imunizante contra o coronavírus ao longo do primeiro semestre deste ano, após meses de isolamento em casa se protegendo da doença. Ainda assim, acabou infectado e não resistiu às complicações da infecção. Além da própria família, sua grande paixão além do Carnaval, Laíla deixa uma legião de admiradores que o viram revolucionar o espetáculo da Marquês de Sapucaí ao longo de mais de 50 anos de trabalho.

Na Beija-Flor, onde permanecerá eternamente na memória de cada componente, Laíla atuou por quase três décadas — a dedicação ocorreu em três passagens diferentes: entre 1975 e 1980, 1987 e 1992 e, por fim, 1994 e 2018. No período mais recente e duradouro, o laço se manteve por 23 anos e somou oito vitórias da Deusa da Passarela com Laíla comandando a brilhante Comissão de Carnaval que transformou em arte enredos célebres como “Manaus, Amazônia, Terra Santa (…)”, de 2004; “Áfricas (…)”, de 2007 e “A simplicidade de um Rei”, de 2011.

A perda de Laíla coloca em luto oficial, por tempo indeterminado, toda a família Beija-Flor (aqui representada pelo presidente de honra Anísio Abraão David e o presidente Almir Reis), ao mesmo tempo em que mobiliza toda a comunidade carnavalesca, já tão impactada com outras partidas significativas em meio à pandemia.

Conhecido pela genialidade e a personalidade forte, Laíla carregou consigo o mérito de ter transformado os desfiles da Beija-Flor em um “rolo compressor” capaz de cruzar a Avenida sem perder décimos em praticamente todos os quesitos, principalmente os “de chão” (Harmonia e Evolução, intimamente ligados ao canto e a dança). Também merecem destaque o luxo e a suntuosidade das alegorias e fantasias que deixaram o barracão da Beija-Flor rumo ao estrelato diante de milhares de foliões.

Os resultados foram reflexo de uma equipe que Laíla reuniu e manteve firme Carnaval após Carnaval, sempre com o apaixonado coração azul e branco trabalhando em prol do melhor para a Beija-Flor. Mesmo fora da azul e branca nas duas últimas temporadas de desfile, Laíla permaneceu querido por todas as pessoas que compõem a instituição. Despediu-se, em 2018, em meio à gratidão do povo de Nilópolis. Agora, chega à eternidade embalado da mesma maneira.

Além da Beija-Flor, Laíla também despertou admiração por outras escolas onde passou, como Salgueiro (onde iniciou a carreira, em 1968); Unidos da Tijuca (para onde retornou em 2019); Vila Isabel; Grande Rio e União da Ilha. Foi convidado a trabalhar no Carnaval de São Paulo pela Unidos do Peruche e pela Águia de Ouro. Encarou todos esses desafios sem nunca pensar em abandonar a festa mais popular do Brasil.

A Beija-Flor agradece a todas essas agremiações, e suas outras coirmãs, pelo carinho com que trataram Laíla ao longo dos anos e por encontrarem nele uma referência sobre as melhores maneiras de se colocar um Carnaval na rua.

Em seu retorno à Passarela do Samba ao fim da pandemia, quando for possível desfilar em segurança, a Beija-Flor estará com Laíla no coração e em pensamento. Os ensinamentos do mestre guiarão cada passo do futuro nilopolitano.

Uma pessoa de fé, sempre fiel à própria religião, Laíla será recebido pela espiritualidade com luz e preces dos torcedores da Beija-Flor em todo o país. Assistirá, de onde quer que esteja, à continuidade de seu legado na festa profana que o santificou.

A mesma Beija-Flor que lamenta a perda de Laíla é a Beija-Flor que celebrará, para sempre, a vida de seu eterno dirigente.

Nossa solidariedade à mulher de Laíla, Marli, seus filhos e toda a família. Que o carinho das multidões por Laíla possa acalmar o coração de cada um.

Obrigado, mestre Laíla. Até um dia”.

Laíla é o segundo maior vencedor do carnaval carioca, atrás apenas de Joãozinho Trinta, com quem já trabalhou nas décadas de 60 e 70.