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Paulo Câmara descarta Geraldo Júlio como seu sucessor

Paulo Câmara- Foto: Ed Machado/Folha PE
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Entrevista concedida à Folha de S. Paulo.

O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), diz que as discussões de seu partido com o PT sobre apoios recíprocos em estados considerados chave não podem ser um fator impeditivo para uma “ação maior”, que é a aliança com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de outubro.

“Tenho um otimismo grande de que será possível fazer essa aliança no âmbito nacional e continuarmos discutindo questões locais. Mas as questões locais não podem nunca ser impedidoras de uma ação maior que, no entendimento hoje, é estarmos muito unidos em torno da candidatura do presidente Lula”, afirma Câmara em entrevista à Folha.

Vice-presidente nacional do PSB, ele faz elogios a Geraldo Alckmin e diz que não haverá obstáculo por parte de seu partido caso o ex-governador de São Paulo decida se filiar à legenda e Lula queira o ex-tucano como candidato a vice.

O governador de Pernambuco, Paulo Câmara – Dayvison Nunes/Folhapress

Como estão as articulações no PSB para possível formação da chapa Lula-Alckmin? O convite [para Alckmin se filiar ao PSB] foi feito ainda em 2021, ele ainda não deu resposta oficial. Ficou de avaliar e respeitamos esse tempo que ele está tendo para essa definição.

A questão de ser ou não candidato a vice é uma composição nacional que o PT vai deliberar junto com os partidos aliados. Mas, se houver esse convite para Alckmin vir a ser o [candidato a] vice-presidente e ele estiver filiado ao PSB, não acredito que haveria impeditivo. Pelo contrário, seria uma boa contribuição que a gente poderia dar a essa construção que a gente quer de unidade nacional, dados os riscos que temos enfrentado no Brasil e que podem ser agravados caso haja uma reeleição do presidente Bolsonaro.

O sr. vê Alckmin com o perfil ideal para vice de Lula? O perfil de Alckmin é um perfil mais ao centro. Conhecemos a sua trajetória política e ele tem uma contribuição a dar a uma possível chapa Lula-Alckmin. O PSB não vai criar nenhum obstáculo caso ele venha a se filiar ao partido e for o nome que o presidente Lula entenda como importante para compor.

O PSB tem pedido ao PT apoio em disputas para governos estaduais. Se não houver essa contrapartida, qual a possibilidade de concretização de uma aliança na disputa pela Presidência? Há um entendimento hoje majoritário no partido da importância de apoiarmos a candidatura do ex-presidente Lula em 2022, inclusive uma posição que eu defendo. Tenho um otimismo grande de que será possível fazer essa aliança no âmbito nacional e continuarmos discutindo questões locais. Mas as questões locais não podem nunca ser impedidoras de uma ação maior que, no entendimento hoje, é estarmos muito unidos em favor do Brasil em torno da candidatura do presidente Lula.

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O ex-presidente Lula e a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, chegaram a sinalizar para uma possível revisão da reforma trabalhista caso o petista volte ao poder. Quais as posições do PSB e do sr. sobre isso? O PSB ainda não se manifestou, não teve nem tempo hábil ainda, inclusive alguns dirigentes estão de férias. Entendo que precisamos de uma legislação trabalhista que esteja adequada para geração de emprego e de renda e diminuição de desigualdades. A legislação atual não está ajudando o Brasil a gerar emprego nem a melhorar a vida dos trabalhadores.

O que o partido sempre defendeu são reformas estruturadoras que possam ser incluidoras, para diminuir desigualdades e gerar emprego e renda. O debate que precisa ser feito em torno de reformas, em torno das leis em vigor, é um debate para o futuro, a gente não pode ficar olhando para trás.

Como está o andamento das conversas para formação de uma federação partidária entre PT, PC do B e PSB? Há na bancada federal do PSB uma disposição em fazer uma federação entre os partidos do campo progressista. Se for importante para o fortalecimento do campo progressista com uma demonstração justamente do que queremos pro Brasil, evidentemente que nós vamos apoiar.

Muitos detalhes ainda não estão ainda claros. Acredito que isso deva ser retomado para se ver se é importante essa federação ou se nós podemos caminhar juntos, mas sem a federação. E se for a federação o melhor para gente derrotar o governo Bolsonaro, com certeza não vamos nos opor a fazer.

O sr. assumirá a presidência do Consórcio Nordeste. Como vai ser o relacionamento do grupo, formado majoritariamente por governadores de oposição a Bolsonaro, com o governo federal? E quais as prioridades na nova função? Vou manter a característica do consórcio de estar aberto a discussões em favor do Brasil e da nossa região. O Nordeste precisa de muitos investimentos, de obras estruturadoras, e tem um nível de desigualdade muito alto. Outras regiões e países que têm interesse em investir no Brasil sabem que essa unidade de nove estados é muito mais propensa a acertos do que se discutir individualmente com cada estado. Vamos continuar a contribuir com o Brasil, contribuir para a nossa região.

O PSB anunciou em dezembro que terá candidato próprio a governador na disputa pela sua sucessão. Quem será o candidato apoiado pelo sr. na eleição deste ano? Essa é uma discussão que eu tinha colocado para ser feita em 2022 e já estamos conversando com os deputados da base e os partidos aliados. Espero ter condições realmente de a gente sair fortalecido desse processo e de apresentarmos candidaturas que dialoguem com o que a gente quer para o futuro de Pernambuco.

A definição sai em janeiro? Vamos trabalhar para isso. A gente não pode marcar uma data porque esse processo é muito dinâmico. Mas eu também quero ter condições de avançar muito no mês de janeiro se for possível já apresentarmos o nosso candidato.

Qual é o perfil que o sr. deseja para esse candidato? Um perfil de um gestor público, mas que seja da política. Temos que respeitar a política, temos que valorizar a política, mas precisamos também ter capacidade gerencial de fazer entregas em favor da população. Vamos buscar um nome que possa agregar em termos políticos, mas que também tenha condições de gerir uma máquina pública.

O sr. considera irreversível a posição do ex-prefeito do Recife Geraldo Julio de não ser candidato a governador? É o que ele já externou ao longo do ano de 2021 sempre que foi colocado nas discussões. Ele sempre solicitou que esse debate não fosse avançado dada a sua intenção de não ser candidato a governador. Então a gente tem que respeitar essa posição. Ele é secretário de Desenvolvimento Econômico atualmente e tem nos ajudado no plano de retomada [da economia] e com certeza vai ajudar na construção das candidaturas.

Eleição de Paulo Câmara (PSB), em 2014
Eleição de Paulo Câmara (PSB), em 2014

O senador Humberto Costa foi lançado como pré-candidato do PT a governador. Tem alguma possibilidade de o sr. apoiá-lo? Nós tivemos juntos ao PT em várias oportunidades. Tive a honra em 2018 de ser candidato à reeleição com o senador Humberto Costa como candidato ao Senado na nossa chapa, não estivemos juntos em 2020, mas há uma clara disposição tanto do PT como do PSB de estarmos juntos em 2022, juntos em favor do presidente Lula e juntos aqui na nossa sucessão. Não tenho dúvida que PT e o PSB vão estar juntos em torno do que for deliberado ao longo de janeiro das nossas discussões.

O sr. vê alguma possibilidade de o PSB abrir mão da cabeça de chapa? Em princípio não. O nosso desejo para 2022 é que o candidato ao Governo de Pernambuco seja do PSB.

O sr. vai concluir o mandato em dezembro ou pretende renunciar em abril para disputar algum cargo na eleição? O meu desejo é continuar até o final do governo e cumprir essa meta que me foi colocada pelo povo de Pernambuco. É um processo dinâmico, pode haver mudanças, mas o meu desejo é ficar até o final e conduzirmos como governador a nossa sucessão. Hoje majoritariamente o desejo de todos [aliados] é que eu continue até o final. Esse é um desejo também pessoal meu.

Pernambuco passa por uma escalada dos casos de Covid e gripe e o governo anunciou novas restrições que valem até o fim de janeiro. Até que nível de medidas restritivas o governo pode ir em meio ao novo avanço de casos? Ainda há uma predominância de influenza em relação à questão das síndromes respiratórias agudas graves. Mas há um indicativo de aceleração da presença da variante ômicron em relação à Covid. Tomamos algumas medidas restritivas até 31 de janeiro. Espero que possa haver um um controle maior em virtude de grande parte da população estar vacinada. E não temos tantos casos graves nem de óbitos como nós não tivemos no passado. Isso vai ajudar as medidas restritivas a serem mais leves. Se for necessário apertar, nós também não vamos deixar de fazer o que for necessário.

As prefeituras de Olinda e Recife cancelaram o Carnaval de rua, mas optaram por não se posicionar sobre festas privadas e deixaram essa decisão a cargo do Governo de Pernambuco. Haverá liberação do governo do estado para festas privadas de Carnaval? Até o final de janeiro nós vamos decidir como vai ser. [O que valerá no] mês de fevereiro vai depender muito da evolução dessa questão tanto da influenza quanto da nova variante da Covid, mas vamos tomar uma decisão perto do final de janeiro.