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Estudo aponta que 54 mil pessoas com Covid-19 poderão fazer o ENEM

Estudo aponta que 54 mil pessoas com Covid-19 poderão fazer o ENEM
Estudantes podem estar infectados no dia da prova - Foto: Brenda Alcântara/ Arquivo Folha de Pernambuco
A análise foi publicada em um artigo assinado pelo educador Mateus Prado.

Um estudo realizado a partir de dados públicos oficiais sobre o novo coronavírus apontou que na data da primeira prova do ENEM, até então marcada para este domingo (17), é possível que 54 mil pessoas infectadas com a doença realizem o exame.

A análise destes dados foi publicada em um artigo assinado pelo educador Mateus Prado, especialista em ENEM, e ex-colunista do Estadão e do IG. “O ENEM 2020 terá entre 54 mil e 108 mil alunos infectados com o novo coronavírus habilitados a fazerem a prova no primeiro dia de exame. As contas que desmontaram isto são baseadas nos dados públicos oficiais sobre mortes decorrentes do novo coronavírus nas pesquisas sobre letalidade, incubação e transmissibilidade conhecidas”, apontou Prado em seu artigo. 

Graduado em Políticas Públicas pela USP e tendo cursado Sociologia na mesma universidade e Medicina na UFRJ, o educador falou sobre a base de dados usada para pesquisa. “Em agosto a OMS divulgou um estudo demonstrando que a letalidade real do novo coronavírus é de 0,6%. A taxa de letalidade oficial (no Brasil de cerca de 2,5 % hoje) na verdade sempre é bem maior do que a real porque a maioria dos casos do novo coronavírus não fazem testagem oficial ou nem fazem testagem, o que impede de aparecerem nas estatísticas. Com média móvel de mortes de cerca de 1000 pessoas por dia o Brasil hoje teria algo próximo de 170 mil infecções diárias (número bem superior aos 53.250 indicados como média diária de casos neste último domingo). Considerando que o vírus fica em média 12 dias em cada pessoa (média de 5 dias de incubação e mais média de 7 dias de transmissibilidade) teríamos hoje no Brasil cerca de 2 milhões de infectados, 0,95% da população”, explicou.

Estudo aponta que 54 mil pessoas com Covid-19 poderão fazer o ENEM
Os últimos meses foi marcado por aulas à distância – Foto: Agência Educa Mais Brasil

No texto, Mateus Prado aponta a possível taxa de infecção entre os estudantes que farão o Exame Nacional do Ensino Médio. “Em uma conta bastante conservadora podemos considerar que entre os inscritos no ENEM temos o mesmo porcentual de infectados que no universo da população do Brasil. A conta, ou a opção por ela e não por outra, é bastante conservadora por sabermos que nestes últimos dias na verdade quem mais tem se exposto ao vírus são justamente os mais jovens, portanto é razoável supor que entre os mais novos o porcentual de infectados vai ser de mais de 0,95% no dia da provável primeira prova do ENEM”, analisou.

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Segundo o estudioso, mais de 30 mil pessoas que farão a prova serão potencias transmissores da doença. “Com mais de 5,6 milhões de inscritos para o exame, no dia 17, quando o INEP/MEC pretende aplicar a primeira prova do exame, mais de 54 mil dos inscritos vão estar com o novo coronavírus. 1 a cada 100 inscritos. Mais de 30 mil deles transmitindo. Se irão ou não ao exame é bem difícil saber. Eu suponho que faltarão quase que na mesma proporção da abstenção geral do exame (que certamente será, se realmente acontecer a prova agora, em torno de 50%)”, disse.

Nos últimos dias, aliás, estudantes, influenciadores e entidades civis têm pedido o adiamento da prova, justamente pelos altos índices de contaminação ainda presentes no Brasil. Inclusive, na última semana, a Defensoria Pública da União ingressou com uma ação na Justiça Federal pedindo o adiamento das provas, que estão previstas para serem realizadas neste mês.

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Data da prova passa por incertezas – Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco

Durante seu artigo, o educador Mateus Prado afirma, ainda, que a questão do transporte e as baixas condições de estudantes que moram nos interiores estaduais também deveriam ser levados em consideração. “Pouca gente conhece a realidade do exame nas menores cidades do país. Em 2018 o ENEM foi aplicado em só 550 cidades. Antes eram mais que 1700 cidades que tinham o exame. No dia do ENEM milhares e milhares de pessoas de aglomeram em tudo quanto tipo é de transporte para poder viajar da sua cidade até a cidade da prova. Várias e várias cidades costumam disponibilizar ônibus para que seus jovens possam se deslocar para a cidade onde farão a prova. Na maioria destes lugares são ônibus lotados que vão e voltam com os alunos. Em alguns lugares são embarcações que levam os alunos. Boa parte destes saindo cedo de casa, 4 ou 5 horas antes do exame, e sem nenhum dinheiro para se alimentar antes, durante e depois da prova. Chegam em casa do a noite, umas 12 horas depois de terem saído.”, explicou. 

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Ele também fez uma comparação com as eleições, que tiveram período mais curto de concentração de pessoas. “As várias horas dentro da sala de aula, que são diferentes dos poucos minutos para votar, devem sim ser levadas em consideração, mas as horas antes e depois do exame também são preocupantes. E são preocupantes sobretudo nos municípios bem pequenos, aqueles onde que proporcionalmente as mortes pelo novo coronavírus mais aumentaram no segundo semestre e também aqueles que têm bem menor estrutura para tratar casos graves da infecção”, disse.