Aos 27 anos e quase formada em Design pela Universidade Federal de Pernambuco, a travesti recifense Linda DeMorrir atraiu olhares na passarela da Semana de Moda de Paris, que rolou até 3 de outubro. A pernambucana foi a convite da hypadíssima Balenciaga, grife que faz o maior sucesso entre as fashionistas de todo o mundo.
Linda estava no Recife, na reta final do curso, quando recebeu a proposta. Como já havia morado em Paris, em 2014, através do programa Ciência Sem Fronteiras, aproveitou para rever os muitos amigos que fez à época. Em 2015, aliás, desfilou pela badalada Vetements. Chegando lá, o processo até o catwalk durou uma semana. Ela passou na segunda etapa, em que rolou a prova de roupas. O ensaio ocorreu em um estúdio de cinema repleto de telas, do chão ao teto. “O cenário era muito louco. A gente estava andando de salto e o chão parecia que se movia, foi uma loucura, mas todo mundo conseguiu entender”, comenta.
Sobre a vivência enquanto travesti, Linda é realista e consegue entender os privilégios que tem mesmo dentro da exclusão. “É bem gratificante por um lado de sobrevida que eu levo enquanto travesti no Brasil, a dificuldade de ganhar dinheiro, trabalhar. Eu me sinto feliz por ter a chance de estar aqui. Por outro lado, eu percebo que, entre as travestis, eu só tive esta oportunidade porque sou branca, tenho cabelo liso. Neste mundo [da moda], eu percebo que, querendo ou não, eu cheguei por ter privilégios”, explica.
No Recife, ela trabalha como vendedora ambulante e faz alguns bicos que aparecem vez ou outra em paralelo à faculdade. “É uma vida simples, bem diferente do que eu tive oportunidade de ter aqui. É completamente fora da minha realidade. Ganhar em um trabalho o que eu ganharia em um ano”, compara. Linda vai passar o mês de outubro todo na capital francesa, onde também faz apresentações como DJ nas festas La Trou Aux Biches, La Multinerie e Shemale Trouble, todas voltadas e feitas por LGBTs.
Apesar de Paris aparentar ser mais aberta às diferenças, na prática, não é bem assim que tem funcionado para a travesti: “Quando eu morei aqui, fui agredida várias vezes. Sinto o mesmo medo que eu sinto no Brasil. Os olhares e assédios são iguais”, justifica. Quando voltar ao Recife, a quem interessar possa, as agendas de modelo e DJ estão abertíssimas.
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