Nascido em Presidente Prudente, no interior de São Paulo, Reinaldo Lourenço é um dos estilistas mais renomados do Brasil. Especializado em moda feminina, o rei da alfaiataria tem um trabalho marcado pela originalidade nas fusões culturais, união de materiais e reconstrução do vintage.
Desde 1984, ele tem a marca de nome homônimo e começou a participar do São Paulo Fashion Week já na primeira edição do evento, em 1996, e segue na semana de moda até hoje. Com peças de alta costura, Reinaldo busca transmitir ideias e valores culturais para o público. As roupas desenhadas por ele se caracterizam com um visual simples e repleto de elegância. Nos trabalhos assinados pelo estilista, é possível conferir recortes, drapeadas e sobreposições.
Reinaldo Lourenço esteve no Recife, na noite de quinta-feira (24), para participar de um Trend Talks na Dona Santa, comandado por Juliana Santos. Ele deu dicas de moda, falou sobre tecidos e sua nova coleção, que é inspirada em Miami. Durante o bate-papo, rolou desfile com as incríveis peças do estilista. “Uma fenda em um vestido é essencial. Não existe nada mais lindo do que uma mulher se sentindo sexy e poderosa”, disparou ele. Logo depois, o estilista aproveitou para conversar com o site Roberta Jungmann sobre o mundo da moda.
Confira a entrevista:
Como você enxerga as manifestações no mundo da moda em relação ao mundo político?
Eu acho que a moda não tem esse papel. Não precisa. A moda tem que vestir as pessoas. Cada pessoa, como cidadão, tem o direito de se expressar políticamente como quiser.
Teve alguma diferença de público de como você começou até agora?
Sempre tem. As pessoas vão envelhecendo. E tem as pessoas que são jovens agora. Mas isso que é o mais interessante.
A moda sustentável é a tendência da vez. Você adere?
Sim, mas a gente não consegue fazer moda 100% sustentável no Brasil. Seria uma mentira. Eu consigo fazer um produto mais focado, pra ter menos perda. Mas não temos uma indústria que pense nisso sustentável como deveria ser. Mas cada dia essa consciência é mais presente dentro de mim.
Qual a sua opinião em relação à esta nova identidade nos desfiles? Agora, temos modelos plus size, cadeirantes nas passarelas… Como isso reflete para o mundo da moda?
Eu acho que o designer tem o direito de se expressar como quiser. Se ele bota uma pessoa na passarela, ele quer passar o que ele estava querendo propor. Eu respeito, mas eu acho que tem uma coisa na moda, porque se você for olhar, por exemplo, para Paris, onde é o centro da moda, ali são desfiles com modelos lindas e tudo. Às vezes eu tenho medo, um pouco, de fazer alguma coisa pra ser o marketing, sabe? De uma coisa que seria um engajamento, é uma apropriação pra ter notícia. E a imprensa sempre cai. O que era pra ser um engajamento, vira um marketing.
A moda está fora de moda?
Sim. A moda tem outro jeito, hoje. A rua conta muito. Eu acho que a moda tá passando por um momento de transição, que eu adoro. Eu adoro desafios. Eu vejo, hoje, a ‘endoment’ de um jeito muito diferente que eu via antes. A estética que a gente vivia nos anos 50, 60… hoje, é outra estética. Eu acho que o conforto, a praticidade, são coisas muito importantes nos dias de hoje.
Agora, falando da sua nova coleção, que é inspirada em Miami. Como se deu o processo de criação?
Foi tão natural pra mim. Eu tava lá e fui criando, sentindo a energia da cidade. A luz de Miami, inclusive, é linda.
Como foi transferir este encantamento da cidade para as peças?
Eu quis ter um olhar de um brasileiro, olhando para Miami. Tipo um olhar de gringo ao contrário (risos). E trazendo o passado de Miami, que é aquela ‘ocean drive’. A arquitetura de Miami é muito inspiradora, as cores são maravilhosas.
O que você diria para alguém que está começando na moda agora?
Eu acho que uma coisa muito importante na moda: vamos supor que 50% seja talento, o resto é aprendizado. A pessoa tem que ter um nível de formação alta, porque as pessoas têm que ser mais esforçadas quando estão fazendo uma faculdade. Ter oportunidade de fazer aquilo com excelência. Isso vai ser muito importante para o seu desenvolvimento. Acho que a faculdade de moda é 10% aprendizado, mas o resto é o trabalho, sabe? A pesquisa pessoal de cada pessoa. Os estilistas tem que ter a curiosidade para o processo criativo e processo de aprendizado.
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