- Por Bruno Albertim
De um lado, uma posta altíssima de bacalhau atravessa o ambiente com seu perfume quente de azeite. Mais adiante, uma moqueca borbulha com seus odores inconfundíveis de coco, cheiro verde e um leve dendê. Ali perto, o pirão amarelinho de uma peixada é servido cuidadosamente ao lado de postas quase cênicas de pescada amarela com um leve cheiro de coentro no ar. Mais adiante, o casal do lado estica discretamente o pescoço para ver o tamanho do filé de salmão, vindo de alguma fazenda marinha chilena, perfeitamente rosado na parrilha.
Poderíamos estar em algum vilarejo semi-secreto ou num complexo badalado de hotéis da costa nordestina. Mas estamos num shopping. Com uma rede de fornecedores proporcional a seu tamanho (e uma logística afiadíssima), o Shopping Center Recife tem umas das mais consistentes concentrações de restaurantes com ofertas de pescados do país.
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O novo universo da carne no Shopping Recife
É o que se vê nessa reabertura das operações após o período mais duro de isolamento social. Claro que, com a pandemia, um ou outro ingrediente pode estar mais escasso com as dificuldades de transporte. Mas o shopping dá praia. Muita.
Vejamos, por exemplo, o Tio Armênio. Na praça de restaurantes do mall, a casa homenageia no nome ninguém menos que Armênio Ferreira, o proprietário do Restaurante Leite, aquele que, no centro do Recife, figura como o mais antigo restaurante em funcionamento contínuo no país. E a homenagem a um restaurante histórico não poderia ser gratuita.
O cardápio oferece um atalho imediato para Portugal. Há clássicos robustos com insumos da terra, como o monumental arroz de pato finalizado com chouriço e a paleta de cordeiro assada pacientemente ao forno, tenra como a vida deveria ser. Mas solicite um dos pratos com pescados e entenda porque os portugueses foram os grandes navegadores históricos do mundo.
Há, claro, praticamente uma receita de bacalhau “para cada dia do ano” – como se diz na terrinha. Se é a primeira vez, peça o Bacalhau à Lagareiro. Clássico absoluto, a posta altíssima, servido com batatas e assado em azeite abundante. Dizem que a receita surgiu nos lagares de azeite – daí seu nome.
Como no Leite, o Tio Armênio incorpora também clássicos pernambucanos, afinal, a cozinha tradicional de Pernambuco tem em Portugal muito de seu DNA. Tente, por exemplo, a garoupa com um rico pirão de frutos do mar. Ou o cozido pernambucano servido como prato do dia às quintas. É um Pernambuco lusitano o que se come aqui.
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A alegria de voltar a comer no Shopping Recife com segurança
Também no shopping, outro restaurante também honra a origem portuguesa de sua cozinha – e isso quer dizer, claro, ao lado de clássicos filés, aves ou cordeiros, uma seção caudalosa dedicada aos insumos do mar. Agradabilíssimo, instalado numa ilha de vidro com direito a piano de cauda e lustre gigantesco de cristal, uma redoma de tranquilidade e bons sabores, o Ferreiro Café é um lugar onde se comer sem pressa. Ali, também não por acaso, um dos clássicos leva o nome do cozinheiro do Leite. O Polvo à Bigode traz o molusco salteado em azeite com vegetais e um leve toque de balsâmico.
Ali está um dos melhores lugares para happy hour, não apenas do shopping, mas de todo o Recife. Com preços bem confortáveis, um final de tarde ali pode ser uma agradável passeio por mini-croissants recheados com salmão defumado, mini-sanduíche de pernil, casquinha de caranguejo, brie maçaricado com geleia…
Prove o simples bolinho de bacalhau e entenda a força do clássico: as fibras do peixe desfiado se confundem com a trama da batata, crocante por fora e quase um purê de tão macio por dentro. O simples peixe com molho de espinafre e arroz de amêndoas já é um acontecimento. Mas escolha uma das receitas de bacalhau: sempre o gadhus mohua, o tipo mais nobre do pescado, cujas postas altas se desfazem liberando sua gelatina marinha entre as fibras. Ao sair dali, a sensação é: Portugal nunca esteve tão perto.
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Receita: saiba como fazer camarão rápido e delicioso
Numa das saídas do shopping, encontramos o Coco Bambu. Nascida em Fortaleza no começo da década de 1990, uma rede nacional de restaurantes enormes, quase do tamanho de pequenas vilas praieiras (não, isso não é exagero). Restaurantes que funcionam como uma espécie de parques temático dedicados aos pescados. Ali, eles recriam permanentemente receitas com tudo que sai do mar. Bem nordestina é a lagosta grelhada com arroz de nata e leite de coco. No cardápio, há sempre oferta de pratos promocionais para duas pessoas.
E se quer se sentir mesmo num balneário em pleno shopping, tente o Camarada Camarão. Com um ambiente rústico-elegantíssimo, com direito até a mesa com ombrelones, a casa tem um cardápio que desafia as possibilidades do mar e conta com os camarões de criação própria.
Nesta reabertura, os pratos para dois (que servem três tranquilamente, a depender das entradinhas, como a impecável empada de camarão) estão com preços em oferta. Uma cozinha de grandes apelos, como na sensualíssima Moqueca Dona Flor: cubos de sirigado com banana da terra, pimenta dedo de moça, tomate, cebola, alho, pimentão, leite de coco e um leve toque de dendê. Com arroz, pirão e farofa, parece poesia. E quem disse que não é?
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