O Chica Pitanga segue sendo o que sempre foi: desde sua abertura, há mais de duas décadas, a melhor expressão que a cidade do Recife já viu em termos de comida a quilo: ingredientes de alta qualidade, receitas de afeto, clássicos internacionais, vários deles ancorados na tradição luso-brasileira, comida do dia a dia com cara de mesa de domingo. O que pouca gente sabe é que o Chica também é, agora, endereço de referência na gastronomia contemporânea e autoral da cidade.
Depois de dois anos sem funcionar e um investimento nada modesto de R$ 8 milhões, o Chica reabriu, há uns meses, de cara nova. Uma super nova cara: pé-direito altíssimo, árvore cenográfica num dos salões, espaço para pequenos eventos, ambiência mais “urbana contemporânea” com uso de muito concreto nas fachadas e, não menos importante, embora mais discreta, a presença do chef Claudemir Barros na chefia da brigada. Uma presença e tanto.
Com anos de atuação no Recife, em negócios próprios ou como contratado, Claudemir é um dos principais chefs, não apenas em Pernambuco, mas do País, que expressam os melhores acordes de uma nova gastronomia contemporânea brasileira. Uma cozinha, digamos assim, decolonial: não mais submissa às regras e valores absolutos da alta gastronomia franco-italiana, mas uma cozinha que usa toda a expertise técnica e da tradição da antiga cozinha europeia assimilando informações de outras latitudes e, sobretudo, valorizando brasilidades.
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Há, inclusive, a possibilidade de se fazer menus-degustação. Um ótimo percurso pode começar com um ceviche tépido de chuchu com legumes e flores comestíveis. Numa inebriante infusão de limão, sumo de umbu e azeite, esta receita nos faz jogar por terra todo e qualquer preconceito que temos sobre (a falta de graça do) chuchu. De uma acidez surpreendente e provocativa. Em seguida, uma brusqueta de pão de macaxeira, ligeiramente adocicado, e lâminas de queijo coalho.
Puro conforto é o rocambole de jerimum, bem aerado, com camarão grelhado e uma incrível emulsão de coentro, que envolve tudo prolongando os sabores. Claudemir deveria ganhar um prêmio categoria “união litoral e sertão” com seu arroz do mar: o arroz do tipo vermelho, firme e de personalidade, com caldo de tomate e uma profusão de pescados de tirar o fôlego – lula, polvo, camarão, mais uma cebola branca recheada com aioli. Entre as carnes, o carrê de cordeiro desafia noções de maciez.
*Por Bruno Albertim
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