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Mesmo sem cargo, Janja tem poder de veto em decisões do Governo

Janja e Lula - Ton Molina
Primeira-dama dá a palavra final em propagandas institucionais do governo e já deu ordens para a equipe econômica

Desde a campanha presidencial, a socióloga Rosângela Silva, a Janja, deixou bem claro que não iria portar-se como uma “tradicional primeira-dama”. A esposa do presidente Lula já afirmava que teria papel ativo no governo e não seria vista penas como a companheira do Chefe do Executivo Nacional. Mas, segundo o Estadão, hoje Janja é vista como um problema para um governo, com entraves na articulação política. Aliás, a crítica vem justamente de velhos amigos do presidente, ministros e líderes de partidos.

Lula e Janja – Foto: Reprodução/Folha de Pernambuco

Senadores e deputados petistas dizem que Janja se colocou como um poder entre o gabinete presidencial, a base aliada e ministros. Sem função formal, a primeira-dama se instalou num gabinete de 25 metros quadrados, bem ao lado da sala do presidente. Sob o argumento de que quer “ressignificar” o papel de primeira-dama, Janja participa de reuniões do presidente com ministros, impõe medidas para as áreas econômica, social e política, dá palpite sobre o relacionamento com os militares e afasta Lula de deputados e senadores.

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Ainda segundo o Estadão, a primeira-dama tem interferido em questões de governo, especialmente na publicidade, indo além de meras opiniões sobre peças de campanhas e com poder de veto. Janja determina mudanças, trocas e até vetos em campanhas importantes. Foi a primeira-dama, por exemplo, que barrou uma proposta do PT de remunerar blogueiros alinhados ao governo. A primeira-dama também defende uma comunicação mais voltada para as TVs abertas.

Ainda assim, o governo nega que Janja tenha interferência na área de comunicação ou publicidade institucional.

Um integrante do primeiro escalão disse ao Estadão que Janja atropelou o rito de conversas com a equipe econômica ao fazer um pedido expresso para redução dos juros do cartão de crédito. Além disso, entre alguns ministros, há o entendimento de que Janja prejudica a interlocução política ao impedir que o presidente almoce com parlamentares e use mais o fim de semana para dar atenção aos representantes da base aliada.

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Após a invasão às sedes dos três Poderes e a tentativa de golpe pelos bolsonaristas, no dia 8 de janeiro, Janja fez críticas ao titular da Defesa, José Múcio Monteiro, em reunião com a presença de outros ministros. Ela o acusou de não “proteger” o presidente como deveria. No dia dos atos golpistas, Múcio chegou a propor que Lula baixasse um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para conter o vandalismo. O presidente estava em Araraquara e, ao ouvir a sugestão de Múcio, feita por telefone, Janja reagiu: “GLO não! GLO é golpe! É golpe”.

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Lula e Janja (Foto: Reprodução/@joaopaulodopt)

Além disso, petistas que atuaram como ponte entre Lula e a caserna reclamaram várias vezes que Janja contribuía para manter o clima de tensão entre o governo e as Forças Armadas. A primeira-dama, aliás, teve participação decisiva para que o presidente criasse uma secretaria para cuidar da segurança dele e da família.