Por Bruno Albertim
Se era uma cara bandeira para gerações anteriores de chefs, a brasilidade é uma realidade para uma novíssima geração de profissionais das panelas que surge natural e inteiramente descolonizada. Exemplo bem vindo dessa cena que acredita que a alta gastronomia não apenas pode, mas deve ser bem conjugada com produtos regionais do Brasil é o trabalho do jovem chef Lucas Muniz à frente do Cobra restaurante.
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Corruptela de Cozinha Brasileira, Cobra é o nome do restaurante pop-up, ou seja, de endereços e feições variáveis, concebido pelas sócias Nina Wicks e Monize Guimarães. Antes funcionando nas Graças, o restaurante está ancorado agora num lindo e amplo casarão modernista de Casa Forte onde, para a atual fase, eles contam com a consultoria de Muniz.
Lucas se tornou conhecido na cidade pelo antigo trabalho à frente de um pastifício em que ia além das fórmulas mais óbvias da cozinha italiana e chama atenção pelo trabalho à frente do Ursa Bar, restô-balada com drinque e acepipos fora da caixa no Espinheiro. Mas é no Cobra que ele melhor conceitua e executa, com técnica precisa e criatividade bem equilibrada, as possibilidades dessa nova gastronômia brasileira – que, receptiva, mas sem subserviência, recebe contribuições de latitudes várias.
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Vale ir com tempo, e bem acompanhando para passear pelo carrossel de sabores das entradas que, como festa, devem ser compartilhadas. O chapati com camarão (R$ 26) traz o pão indiano sem fermento feito na chapa, macio e de crosta estaladiça, com salada de camarões na manteiga de sementes de abóbora e girassol com tomates assados e farofa de presunto de Parma (peça um branco leve e descomplicado).
O Tartar de Atum (R$29), traz o peixe picado e banhado no vinagre de tucupi, picles de maxixe, maioneses defumada, com chips de macaxeira – muito interessante o conjunto, embora um pouco mais de acidez fosse ainda desejável. Ainda nas entradas, uma picanha suína de sol (R$ 26), desfiada e empanada com creme de macaxeira e picles de pimentas doces. Ou o ótimo Pastel de Abóbora e Couve Flor (R$22), picante, servidos com emulsão de castanhas e gergelim preto).
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O cardápio é enxuto (adoro não ler tantas páginas antes da escolha) e traz principais que se vendem já na descrição. O Polvo (R$48), vem em tentáculos, firmes e tenros, ensopado e depois grelhado, arroz de natas e caldo do polvo: bingo! Já o Camarão Crocante (R$48) é cuidadosamente empanado em bifum e frito, guarnecido de arroz cateto no molho de tomates assados e creme sour. O Magret de Pato (R$52), fatiado, é servido com vinagrete de tucuri e purê de cará mais picles de couve-flor e beterraba) são imperdíveis.
Para as sobremesas, o mousse de umbu (R$22), com gelatina de uva e finalizado com azeite de oliva). Ou fudge de chocolate com boa concentração de cacau (60%), uma espécie de brownie sem trigo, mais fluído.
Como é um pop-up, a casa tem móveis e ambientações simples, funcionais. Mas a beleza do imóvel e, naturalmente, dos pratos bem desenhados em sabores límpidos e assertivos garantem o magnetismo do lugar.
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