Até então, a fama era do franguinho. Desde o último domingo, no entanto, as filas se formam para o banheiro da filial do Galeto Sat’s do bairro carioca de Botafogo. Não para fazer o que normalmente se faz em banheiros. Mas para tirar uma selfie no espelho do, agora, mais notório toalete do atual pop brasuca.
Passei ali na noite do último sábado – depois de ver Tráfico, o excepcional monólogo do ator pernambucano de Garanhuns Robson Torinni sobre um garoto de programa que vem acumulando prêmios e plateias no Teatro Poeira. Tudo normal: garçons uniformizados à moda antiga, de pouco papo, chopinhos tépidos e, sim, o galeto com molho de ervas e laranja que é um dos monumentos da baixa gastronomia carioca.
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No domingo, o feijão queimou: teria sido ali o local onde o niteroiense Chico Moedas, notabilizado depois de transformar 10 mil reais do pai em mais de um milhão com bitcoins, traiu as juras de monogamia de Luísa Sonza. Jogou fora o romance, fez pouco da música que leva seu nome no topo dos streamings e virou assunto nacional.
No sábado, entre um chope e outro, em algumas mesas eventuais ainda se podia discutir se a canção de Luisa é ou não uma novíssima bossa nova. Depois que a gaúcha jogou a farofa da traição no programa da Ana Maria Braga, o chope esfriou. O povo só quer saber do tal banheiro. O dono anda tendo dificuldades de controlar o fluxo.
Afinal, o que significa ir só Sat’s além de testemunhar o cenário do adultério que está na capa dos jornais cariocas e em toda a pequeno-mundice das redes sociais, abafando em interesse até a performance de Lula ONU ou a língua frouxa de Mário Cid?
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Felizmente, o Sat’s é mais que seu banheiro. Sua história começa há mais de 50 anos, quando o carioca Sérgio Rabello troca o Méier por Copacabana e acaba por comprar o botequim onde bebia há mais de dez anos do espanhol vizinho no comecinho da avenida Barata Ribeiro.
Foi estendendo o horário pra pegar o pessoal da música e das artes e virou, assim, um dos mais famosos e hoje raros fins de noites de Copa. Declarado Patrimônio Cultural Carioca, abriu há cerca de cinco anos sua filial em Botafogo. Em Copacabana, continua sendo aquele botequim-corredor onde engenheiros e pedreiros se espremem em torno do afamado galináceo. Muito chef premiado bate ponto ali. Atores, idem.
A filial botafoguense fica num casarão antigo, salão amplo, menos cara de pé-sujo e mais de restaurante familiar. Nem caro nem barato para os padrões locais, endereço de brasilidades como a correta picanha sangrando, com fritas sequinhas, arroz e farofa de ovos, para dois, três ou, vá lá, até quatro, a depender das entradas anteriores e apetites restantes ($ 175).
Ou de carioquices como uma porção de coração da galinha, cebola ou linguiça na brasa – uma mania na cidade. Mas é o galeto – primo canto, como dizem os italianos, carne tenra, poucos meses antes do abate, a estrela da casa. Cem pratas na versão completa ou 41 realezas na versão petisco. Só não peça sem o molho que lhe arredonda o sabor com ervas e laranja e deixa tudo tão mais sedoso. Nem exagere no chope – que, aliás, podia ser um milímetro mais geladinho: por ora, não anda fácil acessar o banheiro ali.
*Por Bruno Albertim
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